“Nothing is more memorable than a smell. One scent can be unexpected, momentary, and fleeting, yet conjure up a childhood summer beside a lake in the mountains”(1)
Diane Ackerman, Writer
Yinchuan
Uma Cidade Amigável
A Friendly City
Recentemente li certo trecho em um livro de uma monja budista que dizia precisarmos sentir mais a textura da vida. Concordo, especialmente quando se trata da nossa cada vez mais árida e insustentável civilização moderna, que se afasta aos poucos dos aromas, toques, gostos e sentimentos.
Vemos recentemente no desenvolvimento de novos designs, com a adoção de novas tecnologias, sermos induzidos a nos movermos cada dia menos. Quase todos os aparelhos que antes necessitavam de nossa ação, hoje possuem sensores eletrônicos. Salvo algumas exceções que são justificáveis, outros como torneiras que fazem quase tudo, objetos eletrônicos com comandos viva voz etc., me parecem fazer mais mal do que bem.
Fui visitar a China em busca de sua cultura, beleza e mistérios. À procura de suas texturas e perfumes. Isto porque sou uma curiosa e estudiosa iniciante sobre perfumes e apaixonada por eles.
Meu ponto de chegada foi Beijing, mas dalí peguei um voo noturno para Yinchuam, capital da provincia de Ningxia, perto da fronteira com a Mongólia. Foi a primeira cidade que fui visitar.
De um voo internacional mudei para um voo interno. Os passageiros eram quase todos chineses e na sua grande maioria homens. Estavam vestidos com ternos pretos de feitio datado, com os cabelos pretos, naturais ou tingidos e cheirando a trabalho, suor e álcool. Este odor lotou o avião.
Era o cheiro da China rural, de carneiro e vinagre, de óleo frito, gordura seca e de vinho de arroz.
Aquele avião da Air China era relativamente velho e desconfortável. O voo levaria 4 horas. Sentou-se perto de mim um nativo. A aeromoça, logo depois da decolagem começou com os serviços de bordo.
O jantar foi servido. –“Chichenrice or Meatrice”? O cheiro de comida quente e empapelada tomou o ar. Tudo muito simples, com chopsticks e algum docinho cor de rosa indecifrável.
O passageiro ao lado finalizou sua refeição tomando chá quente que sorveu ao estilo chinês (2), com muito barulho, pois assim pode de fato sentir bem seu gosto e odor, pois estes dois sentidos estão intimamente ligados (tente sentir o gosto de alguma coisa estando gripado ou com o nariz tapado) e também por que na China servem com água fervendo.
Para fugir um pouco dos sentidos comuns, coloquei uma gota do meu parfum Fendi, que carrego sempre na bolsa – é do tipo picante, com uma mistura de couro, rosa, ambar, musgo e sândalo e tentei dormir.
Em vão. Durante o tempo da viagem fiquei então pensando em como os sentidos são fonte de encantamento ou de miséria. Respiramos, degustamos, tateamos, ouvimos, mas dentre eles o olfato parece ser bastante negligenciado. Só o percebemos quando algo nos agrada muito ou quando nos repugna.
Nosso olfato é extremamente preciso, tudo a nossa volta possue um odor próprio. Basta prestarmos atenção e o refinarmos. O mouse do computador, nosso celular, nossa lapiseira, nossa agenda, nossos óculos, nossa roupa, e os outros enfim, são fontes de referência para nosso treinamento. Quando nos enamoramos de alguém é porque gostamos do seu odor corporal, caso contrário é fuga na certa. Podemos detectar cerca de 10.000 odores diferentes.
Pessoas de todas as épocas e culturas sempre se sentiram atraídas pelos perfumes. Odores atraem lembranças. Existem os adoradores de cheiros específicos, como talcos, couros, páginas de livros novos, e uma parafernália de outros objetos. Entretanto só sentimos os cheiros quando respiramos e não temos as palavras certas para defini-los. Só sabemos descrevê-los através do uso de outras referências tais como: um cheiro de fruta, adocicado, floral, afumicado ou agradável, revoltante e enjoativo.
Perfumes têm sempre algo de muito misterioso e de surpresa. Hoje em dia existe uma nova geração de fanáticos por fragrâncias, que vão muito além de uma borrifada diária de perfume. Organizam festas, viagens inspiradas neles e consideram perfume uma arte. Minha chegada ao Oriente seria uma constatação entre outras coisas desta arte. A arte da perfumaria. Poderia eu encontrá-la por lá?
Desde cedo tive extrema sensibilidade olfativa e lembro-me bem de alguns perfumes franceses que minha mãe usava – Fleurs de Rocaille (Caron), Muguet de Bonheur (Caron), Mitsouko (Guerlain), Nº5 (Chanel) – porque ela deixava que eu os experimentasse.
Recordo-me das sofisticadas embalagens cartonadas e seus frascos de vidro ou cristal que me encantavam. Para mim perfume naquela época era símbolo de luxo e prazer porque via minha mãe perfumar-se e vestir-se lindamente para uma ida à alguma festa.
Nesta viagem esperava poder descobrir os “perfumes” do Oriente.
Desci do avião aliviada. Em Yinchuan, como está situada bem ao norte, perto da Mongólia, apesar de ser começo da primavera, ainda fazia frio. Amigos me esperavam no aeroporto. Tivemos que andar num descampado até o carro e senti o vento gelado e o cheiro de mato, madeira e terra úmida limpando minhas narinas saturadas pela cornucópia de odores grosseiros do avião.
O ar fresco adstringente lembrou-me de outra essência que adoro que é o perfume Contradiction de Ralph Lauren. Masculino, seco, amadeirado, pungente.
Yinchuam é uma cidade pequena quando comparada com outras cidades da China; ainda atrasada em muitos aspectos higiênicos o que a torna uma cidade incomparavelmente odorosa em certos lugares internos.
No hotéis mas modernos, por seus hábitos alimentares diferenciados, onde no café da manhã se alimentam com cozidos e frituras, ao lado do international breakfast; sentimos um odor agridoce misturado com óleo frito, particularmente forte e desagradável para quem espera um cheirinho de pão fresco e expresso italiano.
Nos restaurantes em geral, lojas menores, pequenos shoppings ou até prédios governamentais, os banheiros chineses deixam a desejar. Localizados em algum local inferior, são terrivelmente sujos, com o antigo sistema de banheiro turco. (3)
Alí os odores são tão intoxicantes e intragáveis – que alguém poderia dizer ser o cheiro do Diabo. O único lugar viável para uso é o banheiro do hotel. As coisas melhoram um pouco em proporção à modernização e ao tamanho da cidade.
Em casos de extrema necessidade aconselho, para quem for para lá, levar na bolsa Poison (Dior) e colocar uma onça sobre si, mesmo tendo que ser amaldiçoada depois.
Indo para o interior, adentra-se para uma área seca, montanhosa e rochosa.
A silhueta é de uma beleza quase intocada. Alí os odores são de pó, ancestralidade e serenidade. Pavilhões, pagodes e templos budistas percorrem de tempos em tempos a paisagem desértica.
Marcas ancestrais deixadas para nós. Tumbas que parecem cupinzeiros formam restos da 3ª dinastia da civilização MING destruida por Gengis Khan. O cheiro é de silêncio e reverência.
Entre as visitas sagradas, fui interrompida pela curiosidade de uma criança chinesa. Por eu ser estrangeira, diferenciada provavelmente em cores, formas e cheiros, quis saber meu nome e para minha surpresa perguntou o meu perfume (em inglês)! Pelo frio eu estava usando Allure Sensuelle (Chanel), um perfume oriental, com jasmim, iris, tangerina, ambar, patchouli, vetiver, bergamota e outras essencias.
Eu aprecio o uso de perfumes fortes em climas frios e florais em climas quentes. Mas muitos experts dizem que esta regra não se aplica. Cada um deve usar o que quiser.
Mais tarde, de volta à cidade grande, percorrendo as lojinhas com amigos, encontramos uma linda casa de chá.
Várias espécies de ervas, recentes e antigas, custando até centenas de dólares ou yuans por kilo, com gostos e cheiros nunca provados. Perfumes paradisíacos exudaram da cerimonia do chá e elevaram-me à outras dimensões.
Cada gesto do mestre encontrando o seu objeto adequado, uma cumbuca medida, um pote, um pequeno bule de cerâmica custando muitos yuans, uma medida certeira, uma lenda – o Pixui – um sortilégio – o Chan Chu – o Sapo da felicidade, a tradição familiar – a Tartaruga, a tábua de madeira maciça brasileira (pouco sustentável). A loja inteira rescendendo à alma dos verdadeiros odores chineses.
O chá chinês é um grande fetiche na China e no mundo. Na China encontramos chás embalados de todas as formas. Em latas de metal que vêm depois guardadas em outra de papelão lindamente impressa com tipografia em relêvo, com banho em ouro, com gravuras orientais e modelos de abertura totalmente inusitados e engenhosos.
Outros que vem empacotados em papéis laminados coloridos a 5 cores, guardados em caixinhas metálicas, estas por sua vez também coloridas, encaixadas em outra caixa com um diferente tipo de abertura.
Outras com o chá embalado em fino papel de arroz, gravado, acomodado em uma cama de papel dourado que é acolhida em uma outra caixa de madeira finamente acabada à mão, com entalhes e dobradiças minúsculas que se fecham de forma intrincada.
Outras ainda onde o chá vem solidificado e possue um formato arredondado, finamente embalado em papel de arroz gravado, detalhando safra de cultivo, tipo de chá, produtor etc.
São infinitos modelos de embalagens que nos surpreendem o olhar, enchem os olhos de cores, formas e grande harmonia. Mas temos tanto assunto para falar sobre as embalagens chinesas que tudo isso fica para outra vez…
Beijing
A nova pérola da China
The New Pearl of China
Do interior para as cidades grandes como Beijing, Shanghai e Hong Kong, os ares mudam. Cheiros de modernidade, fumaça de incenso, perfumes baratos ou caros infestam todos os cantos.
Os povos asiáticos tem por natureza um odor corporal bastante leve, por isso odorizam muito seus ambientes. Eles também são sensíveis à eles. Entretanto devido à vida contemporânea, stress e trabalho, acabam bebendo e fumando em demasia, sendo este último liberado em todos os ambientes pelo governo, o que os faz recender fortemente à estes dois últimos, principalmente no caso dos homens.
Cheiros corporais nos nossos tempos são considerados ofensivos e a indústria cosmética nos faz crer que precisamos de loções, poções, perfumes e cremes para mascarar nossos odores pessoais.
As mulheres chinesas são belíssimas, sejam de que parte da China forem. Nas cidades mais modernas entretanto pode-se observá-las elegantes, bem vestidas, muito magras, parecendo bibelôs. Tomam muito cuidado com suas peles e como o clima é extremamente seco usam constantemente cremes, mesmo em lugares públicos, sem o menor constrangimento.
O uso de perfumes é também notório, apesar dos próprios chineses me alertarem quanto à legitimidade de suas origens.
Beijing é a nova pérola da China. Cidade agitada, limpíssima, impecável, com trânsito feérico. Arranha-céus gigantes, arquitetura arrebatadora. Em Beijing, convivem lado a lado arte e cultura do passado com o mundo de hoje. Caminhando encontramos parques majestosos, jardins cheios de flores e super bem cuidados, templos antigos, shopping centers atuais, arranha céus, passarelas aéreas, carros moderníssimos, transeuntes alegres e bem vestidos, gente acolhedora.
Bem no centro da cidade encontramos a Cidade Proibida, uma das mais imponentes obras arquitetônicas da antiguidade. Lá dentro, um mundo quase surreal, cada detalhe e sucessão de alas são fontes de beleza inesgotáveis. Os jardins floridos pela primavera estão coloridos e cheirosos. Obras de arte se sucedem de forma a nos surpreenderem sempre. Esculturas, entalhes, tronos, colunas, portais, um mundo de raridades e arte enfim.
A Grande Muralha também é uma das grandes arquiteturas na história da civilização humana que simboliza tão bem o espírito de resistência do povo chinês. Absolutamente imponente em sua solidez e potência, como uma das imagens mito chinesas – a serpente dragão – vara a imensidão das montanhas, colinas e fronteiras dos desertos e através das terras verdes e infinitos rios. Tudo ali cheira à história e mistério.
Aqui vemos o trono do imperador, e um detalhe das muitas alas palacianas, com os dragões e as pinturas coloridas no interior da Cidade Proibida.
As pequenas ruas laterais à Cidade Proibida têm muito movimento por serem também bastante comerciais lá encontram-se pequenos veículos que lembram os riquichás e que servem de taxi e são bem baratos. Por fim uma vista da Grande Muralha que nos reporta à seu passado cheio de história, mistério, mortes e solidão.
Shanghai
The Retro Futuristic City
A Cidade Futurista Retrô
Deixei Beijing já com saudades e parti para Shanghai. O hotel estava situado no bairro mais antigo e seu estilo era inglês. A janela dava para um campo de golf, no teto de um edifício bem alto. Bem oriental.
Em Shanghai cada passo é uma surpresa e às vezes um susto. Belo é vê-la em seus extremos. Em seus detalhes ou suas grande angulares.
Amanheceu com bruma e bastante poluição. A cidade é muito stressante e o tráfego muito intenso. Se o sinal está vermelho os carros passam assim mesmo, com pouco respeito aos pedestres.
Shanghai e muito diferente de Beijing, tem um clima mais intenso, mais denso. Conforme o dia vai passando a cidade vai se tornando mais turva, mais misteriosa. Existe lá um misto de novo e velho decadente que a torna muito inquietante.
A cidade é mais surpreendente em cada esquina, onde ora o belo e o feio, o limpo e o sujo se encontram. À noite entretanto, a cidade se transforma, cria vida. Senti-me estranhamente impactada pela grandeza de sua beleza fria, da silhueta arquitetônica noturna penetrante, como uma galáxia no silêncio do universo. Subitamente, milhares de luzes se acendem e a cidade sob um condão da varinha mágica, ganha novos contornos hipnotizadores.
Suas panorâmicas são assustadoramente blade runner. Pareceu-me uma cidade estranha e ausente de persona onde não consegui sentir nenhum cheiro ou aroma especial de coisa alguma ou ninguém. Pelo menos neste primeiro dia…
Mas durante o dia podemos sentir as luzes brincando à nossa volta.
Fui ver o aquário de lá e quase caí de costas – absolutamente inacreditável – um show de luzes (via tunel), imagens, cores e peixes fantásticos ( o aquário fica acima de nossas cabeças e parece que os peixes estão ao alcance das nossas mãos). Mas ainda o ambiente estava totalmente selado…nenhum cherinho de peixe à vista!
Continuando minha jornada fui até a feira do Templo Budista principal. Lá esperava encontrar alguns perfumes mais intensos, ao menos dentro do templo.
De fato, antes da entrada principal, já se viam nas lojinhas uma imensidão de incensos de todas as qualidades. São incensos muito grandes e muito diferentes dos indianos. Para minha surpresa eles não tem perfume. Somente cheiram à cinza queimada.
Entrando do templo porém, nos vários altares, onde haviam ofertas de pêssegos e abacaxis maduros, pude começar a sentir seus leves e delicados odores.
Além dos odores naturais a China é uma festa de cores. Seja pelos caminhos que se caminha, seja nos ambientes urbanos ou nas mais distantes paisagens naturais.
Nas ruas e cantos da cidade vêm-se abundantes tributos à Buda. Frutas, aves, velas e incenso. Sempre intocados e respeitados. Tudo delicada e harmoniosamente arrumados.
Mas também, surpreendentemente, vê–se nas esquinas da cidade, roupas penduradas ao vento, balançando, sinalizando um alô ou um adeus ao viajante que passa por lá…
Nos restaurantes finos os odores mudam de figura. Somos pegos de surpresa. Inicialmente pela divina apresentação dos pratos, depois pela sequência de sabores, cores, desenhos, montagens e obviamente odores.
Há rigor estético cultural.
A comida chinesa é de uma riqueza e fartura inacreditáveis. São dezenas de verduras e legumes crus, cozidos, refogados e misturados com temperos dos mais diversos, alguns delicados e outros fortes e muito apimentados.
Peixes, carnes e aves de todos os tipos enriquecem os jantares que não terminam, onde cada prato é intercalado por iguarias semi doces, apimentadas ou levemente salgadas num encanto gastronômico inigualável. Os odores são leves e delicados.
Por respeito à estes pratos não me permiti usar nenhum perfume. Seria muita ousadia e irreverência.
Mas lá também existem lugares que são relaxantes e engraçados, os famosos e muito apreciados karaokês. Muito diferentes dos nossos, têm salas privadas com todo o tipo de luxos e confortos, comidas modernas, salgadinhos, cervejas, e muitas frutas frescas que os chineses adoram!
Hong Kong
The Fragrant Harbour
O Porto Perfumado
Aeroportos tem muitos cheiros, principalmente perto dos duty free shops quando v. sai da China para entrar em Hong Kong. São cheiros internacionais. Cheiros europeus, franceses, de grandes perfumarias, de grandes perfumistas, grandes bebidas, e grandes chocolaterias. Um misto de sensualidade, prazer, luxo, conforto, contemporaneidade e beleza.
Armani, Hermès, Chanel, Christian Dior, Givenchy, Tom Ford, Guerlain, Lanvin, Estée Lauder, Cartier e milhares de outras marcas volatizam-se no ar atraindo passantes como abelhas às flores. Múltiplas vitrines coloridas cheias de frascos que disputam seu design entre si e seus reflexos ofuscam os olhos de quem passa. Lindas chinesas borrifam o ar e sorriem gentís aguardando nossa chegada. Perfumes cheiram mais forte em baixa pressão porque o perfume se espalha mais rapidamente, afinal perfume é 98% de água e álcool e 2% de gordura e moléculas de perfume. Em dias quentes perfumes também evaporam mais rapidamente. Eu passei correndo tentado evitar a tentação de comprar mais perfumes, que são a minha paixão.
Em Hong Kong fazia calor e a cidade me lembrou um pouco de São Francisco com algumas partes do Rio de Janeiro, principalmente nas áreas verdes.
É uma cidade extremamente vertical, contemporânea, onde não existem traços da cultura chinesa milenar a não ser nas riquíssimas lojas de antiquidade na Hollywood Road – o fascínio de todo o turísta.
Cheirar bem deixa bons rastros, boa imagem, bons fluidos, bons sonhos, boas lembranças.
Em toda a China, nas cidades mais antigas como Nanjing, Zheijiang, Hebei, Shaanxi (aonde encontram-se enterrados a armada de terracota), Shandong, Beijing, Angzou, sente-se o perfume da grande e única cultura mundial de muitos milhares de anos. De outro lado, uma China cheia de contradições, onde existe o cheiro de culturas novas e uma energia jovial no meio das pressões da vida moderna.
A China é magnífica; uma terra de extrema beleza natural, com montanhas, desertos, grandes rios, vales, vistas rurais e jardins elegantes floridos e perfumados.
Os ancestrais Chineses nos deixaram, sob a infuência da arte budista com influências Indianas e Persas, obras de arte esplendorosas. A majestosa Cidade Proibida, uma obra de arte feita pela mão humana que enfatiza a harmonia e a unidade. E tantas outras obras vindas da natureza e do próprio homem.
Todas estas paragens que nos tocam profundamente estão incensadas por dionisíacos perfumes naturais que o homem até hoje procura assimilar e similar.
Apesar disso, lindas chinesas, sejam campestres ou urbanas, jovens ou idosas, são altamente sensíveis aos perfumes fabricados pelo homem.
Não há perfume que não as faça virar a cabeça e perguntar sem pudor que que perfume v. está usando. Obviamente os perfumes importados são caros para os chineses e existe pirataria interna também nesta área. Todo cuidado é pouco.
Apesar de dizerem que perfumes são um dos luxos mais acessíveis na vida, eu não considero perfume um luxo mas um prazer. Hoje em dia todos tem acesso à algum tipo de perfume seja qual for e não tem que ser necessariamente um perfume francês. É claro que existem diferenças mesmo entre uma casa produtora e outra.
A humanidade sempre foi atraida pelos perfumes naturais que a rodeava. Nas flores, nos frutos e até nos animais. Seu desejo foi de carregar consigo tais aromas.
As primeiras tentativas foram bastante rudimentares. No Egito usavam óleos aromáticos e águas de flores nos banhos. Na era Elisabetana usavam muitas fragrancias nas roupas para encobrir a pouca higiene. Mais tarde bolas perfumadas e caixinhas de vinagre aromatizado ficaram populares. Por volta de 1700, grandes produtores de perfumes se estabeleceram produzindo colonias florais delicadas. Durante o sec. 19 as técnicas foram evoluindo e ao invés de matérias primas naturais, que são muito caras por kilo, as sintéticas acabaram ganhando espaço e Paul Parquet em 1881 lançou o famoso perfume para Houbigant, Fougère Royale, que se tornou possível à um grande número de mulheres.
Entretanto neste ponto das coisas vocês devem estar com milhares de perguntas na cabeça…mas e daí? Tantos odores naturais… a busca dos perfumes na China… Como se faz um perfume? Quem faz um perfume? Perfume é uma ciência? Perfume é uma arte? Perfume é design?
São mesmo muitas perguntas e as respostas também são inúmeras e só poderão ser respondidas proximamente. O assunto é vastíssimo e possue muitas ramificações.
Posso concluir entretanto que apesar de todo a arte, design, ciência e tecnologia empregados na elaboração de um perfume, a maior perfumista de todas, como disse Luca Turin, ainda é a Natureza e após visitar a China constatei que ela é uma grande professora.
(1) “Nada é mais memorável do que um perfume. Um perfume pode ser inesperado, momentâneo e fugidío, entretanto pode lembrar um verão na infância à beira de um lago nas montanhas”.
(2) As regras de boa educação chinesa vêm de tradições há séculos. No início da dinastia Han era de muito mau tom fazer barulho ao comer, mostrar a comida que se tinha na boca, comer muito e olhar para a comida na mesa. Não se devia espalhar o arroz, não se devia sorver liquidos ruidosamente.. e muitas outras regras. O código de boas maneiras oriental e ocidental são muito semenlhantes até hoje.
(3) Buraco no chão e apoio para os dois pés.
Créditos
Fotografias
Suzana M. Sacchi Padovano
Agradecimentos
Bruno Roberto Padovano
Thomas Tsang
Jeff Tsang
Juliana Ting
Setembro 7, 2009
Categorias: Artigos, Crônicas e Críticas de Design e Moda, Design industrial/objetos/usos/costumes/consumo, habitos de consumo/sustentabilidade . . Autor: sacchipadovano . Comments: 2 comentários